As três peneiras de Sócrates aplicadas em tempos de mídias sociais
Vou direto ao ponto: a ideia construída por Sócrates (470 a.C. – 399 a.C), o filósofo grego da Antiguidade, segundo o qual algo deveria ser submetido a três peneiras antes de ser compartilhado.
O título do meu texto cita sua aplicação às chamadas mídias sociais, como Facebook, Instagram, You Tube e tantas outras. Mas deixarei por sua conta, respeitável leitor e leitora, as analogias entre os dois elementos-chave do texto, a saber – a ideia socrática e o compartilhamento de ideias e sentimentos nas mídias atuais.
Farei somente algumas adaptações tanto na linguagem quanto no contexto, ok? Eu te convido a imaginar o diálogo a seguir com os sotaques e gírias da cultura paulista na qual estou inserido (e, talvez, você também).
Convido, ainda, a considerar que os dois são próximos e, portanto, o diálogo entre ambos tem liberdades que só a verdadeira intimidade de amigos(as) possibilita. Quero crer que você tem ou já teve amizades verdadeiras nas quais as pessoas brincam e se divertem entre si com as próprias falas e situações (”micos”). Sendo assim, entenderá o contexto proposto.
Como tudo começou
Um rapaz por volta dos 20 anos mandou uma mensagem de WhatsApp para Sócrates, seu professor universitário e orientador acadêmico. A resposta demorou um tanto além do que ele gostaria, mas finalmente o velho professor respondeu.
– Ôrra, tiozão, que demora pra responder, meu!!
– Meu jovem, sou um cara ocupado. Então, não me enche os pacová, ok? Como posso te ajudar?
O início do diálogo
– Cara, tem um rolê pra te contar! Bagulho quente!
– Ô, maluco, você me manda mensagem, me faz parar minhas coisas e quer fazer fofoca? Tá de sacanagem, carai?!
– Fica cool, irmão! É importante…
– Sério?! Pra começar, essa parada que tu vai me contar passou pelas 3 peneiras de Sócrates?
– Que peneiras, tio? Tá me tirando? Ou já tá fumando aqueles baseados ruins logo cedo?
A 1ª peneira
– Vou fingir que não ouvi essa merda… Sim, cabeçudo, 3 peneiras.
– Vai explicar ou ficar me enrolando?
– A primeira das 3 peneiras se refere à VERDADE. O que você vai compartilhar sobre essa pessoa ou sobre uma situação é um fato? Há certeza sobre o fato? Ou você apenas ouviu falar?
– Veja bem…
– Veja bem você, mazanza: se você simplesmente ouviu falar, a primeira peneira está mais vazada que a defesa do Corinthians e você sequer deve levar a ideia de compartilhar adiante…
A 2ª peneira
– Caraca, véio turrão, a fonte é segura! Confia!
– Só falta você dizer que “la garantia soy yo”…
– Porra, você é um pé no saco, né?! O bagulho é real!
– Vamos considerar que seja. Taí a segunda das 3 peneiras: a BONDADE. O que vai compartilhar é algo bom, positivo? Vai ajudar alguém? Ou só vai prejudicar outra pessoa? Se é o caso, não compartilhe!
– Virou Madre Teresa agora?
– Dai-me paciência, Senhor. Pois se me der forças, eu agrido esse mané. Não é questão de ser Madre Teresa ou Mão Dinah… É uma simples questão de não querer ferrar ninguém!
A 3ª peneira
– Você bugou meu cabeção, caraca!
– Nem precisa muito pra isso acontecer, né?
– Tá de sacanagem novamente… essa parada aí me balançou…
– Que bom, porque ainda tem a terceira peneira.
– Ah, não…
– Se o que você vai compartilhar é fato e é positivo, a terceira peneira questiona se há NECESSIDADE de compartilhar. Vai resolver algum BO? Ajuda alguém nas paradas do dia a dia? Desenrola algum problema?
– Vixe!!
– Agora, a decisão de compartilhar está contigo. Se passou pelas 3 peneiras, compartilhe. Textão, áudio, vídeo com dancinha, não me interessa como, mas compartilhe. Caso contrário, vai dormir e não me perturba, carai… Que já tem fofoca demais por aí…