Mentoria e Coaching

Vamos falar um pouco sobre mentoria e coaching, essas duas formas de ensinar que são tão citadas, mas pouco compreendidas. O objetivo do texto é ajudar a desconstruir ideias tortas e reforçar entendimentos mais claros a respeito de ambas.

Comecei a lecionar em 1990. Faz um certo tempo… Percorri uma trajetória própria, iniciando a licenciatura em escolas particulares. Dali, após duas especializações, um mestrado e quase 15 anos de muito trabalho, parti para o ensino superior, no qual permaneci quase uma década como docente em cursos de graduação e pós-graduação.

Ao mesmo tempo em que atuava no ensino superior, dava meus primeiros passos como sócio de uma consultoria e, portanto, como empreendedor. Minha atuação ocorria naquilo que podemos chamar de educação corporativa, ou seja, processos de capacitação de profissionais dentro dos respectivos ambientes empresariais. Esse período da minha carreira me permitiu conhecer novos horizontes de atuação, navegando por contextos (empresas e indústrias de diferentes setores e tamanhos) e temas (liderança, gestão de pessoas, planejamento estratégico…) com os quais até então eu pouco estava acostumado.

Quando me tornei coach e mentor

Em meus treinamentos corporativos, durante muito tempo me perguntaram se eu era coach. Não sei ao certo o porquê. Talvez meu jeito de ensinar baseado em afirmar menos e perguntar mais. Se hoje em dia ainda não é muito comum um docente apresentar metodologia pautada em questionar e propor reflexão, imagine há uns 15 anos atrás.

O fato é que demorei alguns anos para me decidir pela formação em coaching. Mas, uma vez iniciada, o desejo de agregar essa atuação em minha carreira foi imediato. Nada mais natural, considerando que o coaching gera resultados mais consistentes do que as metodologias expositivas usualmente aplicadas em programas de educação corporativa.

Um tempo depois, fiz também minha formação como mentor – o chamado mentoring, ou mentoria. Eu precisava entender as diferenças entre coaching e mentoria enquanto metodologias de ensino, ou seja, formas de ensinar. Curioso que me encantei tanto pela mentoria quanto tinha me fascinado pelo coaching. 

Por isso, atualmente me apresento como coach e mentor, e deixo em segundo plano os papéis de docente e de facilitador de programas de educação corporativa. Eu me vejo plenamente como coach e mentor, e explicarei melhor enquanto já abordo atributos e características de ambos.

Atributos e características

Gosto de ouvir as pessoas e tenho paciência para esperar o momento de falar, atributos tanto de um coach quanto de um mentor. Desconfie de coaches e mentores que falam mais do que seus coachees e mentorados (como são chamados aqueles que passam por processos de coaching e mentoria, respectivamente).

Quando falo, afirmo pouco e pergunto bastante com intuito de gerar reflexões e aprendizagens a partir do ponto de vista da pessoa (coachee), o que é a essência do coaching. O coach estrutura seu trabalho com perguntas. Evidentemente não são perguntas “soltas”, mas elaboradas de forma lógica dentro da narrativa do processo de aprendizagem daquela pessoa (coachee). Essa habilidade de perguntar precisa ser treinada pelo coach até ser executada com competência.

O coach não é pago para explicar coisas, mas para perguntar e ajudar o coachee a construir suas próprias explicações. O coach não deve dizer ao coachee “se eu fosse você eu faria X ou Y…”, mas auxiliá-lo a compreender da maneira mais clara possível o que X ou Y significa em sua vida.

Eu também gosto de compartilhar experiências e conhecimentos, o que é essencial na mentoria. Espera-se que um mentor tenha conhecimentos e experiências na área de atuação para conseguir oferecer suporte ao seu mentorado. Mentores com pouca experiência e pouco conhecimento simplesmente não poderiam ser mentores…

Claro está que esse compartilhar necessita ser elaborado para não se tornar um blá blá blá sem sentido. Compartilham-se conhecimentos técnicos e experiências de vida pessoal e profissional dentro do contexto do processo de aprendizagem do mentorado, e sendo cuidadoso para não desmerecer os conhecimentos e experiências dele(a).

Ferramentas

Além desses pontos, é importante destacar que tanto nos processos de coaching quanto de mentoria podem ser utilizadas ferramentas. Contudo, as mesmas são apenas apoios às aprendizagens das pessoas. Quem acredita que coaching e mentoria são sinônimos de aplicação de ferramentas está redondamente enganado e ainda não entendeu a essência de um (perguntar) e de outra (compartilhar). 

Outro ponto em comum é a condição de curto prazo dos processos de coaching e mentoria. Ambos não devem se alongar mais do que alguns meses, considerando que seus objetivos de aprendizagem precisam estar muito bem definidos e alcançáveis no curto prazo.

Finalmente, o coach e o mentor dialogam, utilizam metáforas, propõem novas perspectivas de análise, sempre baseados em suas respectivas essências metodológicas – perguntar e compartilhar. O trabalho consiste em ajudar o coachee ou o mentorado a construir as respostas que sozinho provavelmente não encontraria, ou levaria muito tempo para fazê-lo.

Estou me referindo a desenvolver uma competência específica, elevar a autoconfiança para uma realização ou tomada de decisão difícil, clareza em um momento de transição, entre outros possíveis objetivos de aprendizagem.

Para saber mais

Se você deseja saber mais sobre mentoria e coaching, sugiro que acompanhe o blog pois novos textos serão lançados em breve, incluindo abordagens sobre filmes que apresentam personagens tipicamente definidos como mentores e coaches.

É provável, até, que você acabe encantada(o) com ambos tanto quanto eu…