Fernandas, a Torres e a Montenegro

Fernandas – a Montenegro e a Torres

O texto de hoje será um pouco diferente. Não falarei de uma pessoa, sua história e legado, mas abordarei duas. Duas Fernandas – a Montenegro e a Torres, as quais estão ligadas por vários laços, incluindo o mais forte de todos, a relação mãe e filha, construída segundo a segundo desde a concepção.

Para essas duas pessoas, outros laços se manifestam ao longo da trajetória de vida, tornando-as um caso totalmente especial, como veremos nos próximos parágrafos.

A vida de ambas é tão fascinante que não resisti; ao contrário, desde o instante em que tive a ideia de escrever sobre ambas não tive mais sossego comigo mesmo: a todo momento me relembrava “Sidnei, você precisa sentar e escrever esse texto… mais um dia se passou e você está enrolando!!”.

Pois é, leitor/leitora, eu dialogo comigo mesmo de forma quase imperativa. Contudo, creio que você me entende, certo? Provavelmente, sua voz interior também não alivia muito…

Feitas as considerações iniciais, vamos ao texto em si!

Fernanda, a Montenegro

Já vou dizendo logo de cara. Ela não é Fernanda de nascimento, e também não é Montenegro. São seu nome e sobrenome artísticos, não de batismo. Em sua Certidão de Nascimento consta Arlete Pinheiro Esteves.

Nasceu em 16 de outubro de 1929, no Rio de Janeiro, e cresceu no bairro de Madureira. Sua família era da classe média carioca, seu pai trabalhava como marceneiro e sua ascendência era europeia – italiana por parte dos avós maternos, e portuguesa por parte dos avós paternos.

Começo da carreira

Arlete estudou no Colégio Pedro II e fez o curso de secretariado. Aos 15 anos participou de um concurso de locutora na então Rádio Ministério da Educação e Saúde (atual Rádio MEC). Venceu o concurso, iniciou seu trabalho como locutora e, com o tempo, tornou-se radioatriz.

Sua passagem pela Rádio tem grande importância posto que ali deu os primeiros passos como atriz, escolhendo seu pseudônimo Fernanda Montenegro. Nessa mesma fase de sua vida, frequentou um grupo de teatro amador e estreou no teatro com a peça Alegres Canções nas Montanhas. O ano de 1950, portanto, pode ser considerado o começo oficial de sua carreira.

No mesmo período conheceu Fernando Torres, com quem casou-se. A união foi fértil tanto em termos familiares quanto profissionais. O casal teve dois filhos, Claudio e Fernanda (sim, vou falar dessa outra Fernanda já já) e atuou junto em muitos momentos ao longo dos anos.

A grande Dama da Dramaturgia brasileira

O título não é um acaso. Muito pelo contrário, a carreira de Fernanda Montenegro se mistura com a própria história do teatro, da televisão e do cinema no Brasil. Desde 1950, são 75 anos de uma carreira com uma infinidade de peças teatrais, mais de 60 novelas e cerca de 40 filmes.

Muitas dessas obras são memoráveis, como as novelas Guerra dos Sexos, Rainha da Sucata, Incidente em Antares e Esperança; quanto aos filmes, Eles não usam Black-tie, O que é isso, companheiro?, O Auto da Compadecida, O Tempo e o Vento,  e, é claro, Central do Brasil, a obra prima que a levou à lista de indicadas ao Oscar.

Premiações e homenagens

Se tudo isso não bastasse, existem suas premiações e homenagens. Vou citar apenas as principais: um Emmy Internacional de Melhor Atriz por Doce de Mãe em 2013, um Urso de Prata no Festival de Berlin por Central do Brasil em 1998, além das indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar pelo mesmo filme. Aliás, ela foi a 1ª mulher brasileira, latino-americana e lusófona a atingir uma indicação ao Oscar.

Sobre homenagens, em 1999 recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, tem 5 prêmios Moliére, e 3 prêmios Governador do Estado de São Paulo. Foi escolhida para ler o poema “A flor e a náusea” de Carlos Drummond de Andrade, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.

Além de todas as contribuições à sociedade brasileira por meio de sua carreira, Fernanda Montenegro generosamente nos brindou com algo especial: ela deu à luz a outra Fernanda da qual quero falar, a Torres.

Fernanda, a Torres

Ao contrário de sua mãe, Fernanda Torres decidiu manter seu nome de batismo em sua carreira. Ela apenas retirou seu 2º sobrenome, Pinheiros, para que o nome artístico não ficasse longo demais.

Nasceu em 15 de setembro de 1965, no Rio de Janeiro, e cresceu no ambiente teatral no qual sua família vivia. Estudou em escola católica e, aos 13 anos, iniciou sua formação artística no Tablado, tradicional espaço de formação de atores e atrizes.

Começo da carreira

Sua estreia no teatro ocorreu em 1978 em uma peça de Maria Clara Machado. Na TV, estreou na TVE um ano depois e, ainda em 1979, migrou para a Rede Globo para trabalhar em novelas e minisséries. Quanto ao cinema, seu 1º filme foi em 1983, Inocência.

Note-se que em todos os casos acima, Fernanda ainda era menor de idade e, portanto, interpretava papéis infantis ou adolescentes. Sua precocidade permitiu um intenso desenvolvimento profissional, incluindo um prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, em 1986, pelo filme Eu sei que vou te amar, dirigido por Arnaldo Jabor. Ela tinha somente 21 anos na ocasião.

Uma referência em diferentes contextos

A carreira de Fernanda Torres expandiu-se de tal forma que ela tornou-se referência em todas as cenas – teatro, televisão e cinema. Considerando-se o ano de 1978 como sua estreia profissional, são 47 anos de carreira com mais de 80 obras, incluindo peças, novelas, séries, minisséries e filmes para cinema.

Inúmeras delas são inesquecíveis, como as novelas Baila Comigo e Selva de Pedra, as séries Os Normais e Tapas & Beijos, a peça teatral A Casa dos Budas Ditosos, e os filmes Inocência, A Marvada Carne, Eu Sei que Vou te Amar, O que é isso, companheiro?, e, é claro, Ainda Estou Aqui, que a levou ao prêmio de Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro e à lista de indicadas ao Oscar (prometo que vou atualizar esse texto no mesmo dia em que Fernanda ganhar a estatueta!).

Como seu talento exige fronteiras em constante expansão, tornou-se escritora. Começou nos anos 2000 como cronista em revistas e jornais e, em 2014, publicou seu primeiro livro, Fim. A vendagem ultrapassou 200 mil exemplares e tradução para sete países, o que indica a competência e o sucesso de Fernanda também na literatura.

Premiações e homenagens

Como se os dois prêmios – Cannes e Globo de Ouro, e a indicação ao Oscar não fossem suficientes, Fernanda Torres colecionou ao longo de sua carreira uma extensa lista de premiações e indicações.

Ganhou o Festival de Cinema de Gramado (1985), Festival de Cinema de Brasília (1999), Troféu APCA (2000), Prêmio Shell de Teatro (2003) e Festival Internacional de Cinema de Guadalajara (2006), entre muitos outros prêmios e indicações.

Fernandas unidas por laços

Como comentei na abertura do texto, laços unem as Fernandas ao longo da trajetória de vida de ambas. A condição mãe e filha é o primeiro deles, é claro. Contudo, outros também chamam atenção.

Ambas construíram carreiras espetaculares no meio artístico, incluindo teatro, TV e cinema. Alcançaram fama e reconhecimento na forma de fãs, prêmios e indicações. E cativaram plateias por onde deixaram suas mensagens.

Há, ainda, um laço que as une que é especialíssimo, posto ter ocorrido em raras ocasiões: mãe e filha indicadas ao Oscar de Melhor Atriz! Isso só aconteceu outras 4 vezes na história.

Que esse texto seja visto como uma pequena homenagem a duas artistas brasileiras que tanto contribuem com a cultura e com a vida de todos nós. Viva as Fernandas!

 

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