Clarice Lispector
Você provavelmente desconhece o nome original de Clarice Lispector, essa fenomenal escritora brasileira. Aliás, talvez também não saiba que ela não nasceu no Brasil, mas na Ucrânia, em 1920, mais precisamente na pequena vila de Chechelnyk, perto da fronteira com a Moldávia.
A vida de Clarice é tão fascinante quanto sua obra literária. Uma mulher adiante de seu tempo, capaz de influenciar gerações e deixar um legado único. Um grande nome que eu precisava abordar entre meus textos no blog.
Ucrânia
Nascida em dezembro de 1920, recebeu o nome de Chaya Pinkhasivna Lispector. Sua vida na Ucrânia se resume a poucos meses de vida posto que sua família era de origem judaica e decidiu fugir da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa (1918-1921).
Há poucas informações sobre essa viagem de fuga, mas se sabe que a família passou por Bucareste, Praga e Hamburgo, onde embarcou no navio Cuyabá, com rumo ao Brasil, aonde chegou em 1922, em Maceió, Alagoas. Na capital alagoana vivia uma tia, irmã de sua mãe.
Crescer no Brasil
O pai considerou importante adotar novos nomes para todos, e Chaya tornou-se Clarice. Logo a família mudou para Recife, local em que Clarice cresceu e viu sua mãe falecer. A menina tinha facilidade tanto com a literatura quanto com a matemática, e logo passou a escrever pequenos textos.
Na adolescência, uma nova mudança, desta vez para o Rio de Janeiro. Clarice tinha 14 anos e seguiu forte nos estudos, conseguindo ingressar aos 17 anos no curso de Direito da então Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Sua entrada na universidade quebrava dois paradigmas da época: uma mulher estudando no curso de Direito, e uma pessoa que não tinha origem em classes econômicas favorecidas chegando ao ensino superior.
Primeiras publicações
Ainda no período universitário, publicou seu primeiro conto – Triunfo, o qual abordava a estória de uma mulher abandonada pelo marido. Seguiu buscando publicar seus textos, mas enfrentava muitas resistências por ser mulher.
Ao conseguir trabalho de tradutora na Agência Nacional, a agência de notícias do então governo Vargas, Clarice Lispector começou a conviver com jornalistas, escritores e autoridades políticas, o que abriu portas para novas publicações, entre as quais se destaca Perto do Coração Selvagem.
Casada com diplomata, e separada dele
Em 1943, casou-se com Maury Gurgel Valente, que conhecera no curso de Direito. Ambos precisaram esperar que o processo de naturalização dela chegasse ao fim, o que ocorreu um dia antes do casamento.
O marido tornou-se diplomata e, após o fim da 2ª Guerra, foi designado para o consulado brasileiro em Nápoles, Itália. Clarice, portanto, se mudou com ele para a Europa, iniciando uma aproximação com obras literárias de diversos autores estrangeiros.
Após cerca de 15 anos casada, com dois filhos (um deles com problemas de saúde) e cansada das constantes mudanças de residência em função do trabalho diplomático do marido, decidiu separar-se dele para retornar ao Rio de Janeiro, oferecer aos filhos uma vida mais tranquila e dedicar-se à sua carreira.
Novamente Clarice Lispector quebrava paradigmas, considerando o quanto era incomum uma mulher pedir separação na transição das décadas de 1950-60.
Trabalho e Legado
No RJ, conseguiu emprego no Jornal Correio da Manhã, no qual seguiu publicando suas obras e recebendo prêmios literários. Clarice dominava fluentemente quatro idiomas – português, inglês, francês e espanhol, falava bem outros dois – hebraico e iídiche, e ainda falava russo, com menor facilidade.
Ao longo de sua vida, traduziu mais de 40 obras, entre livros e textos. Quanto aos seus próprios textos, entre romances, contos, obras infantis e crônicas, são mais de 25 obras, traduzidas para mais de 10 idiomas.
Sem sombra de dúvidas, uma contribuição inestimável à literatura brasileira e internacional.
Doença e fim
Já reconhecida como uma grande escritora brasileira, no final da década de 1970 descobriu um câncer de ovário em estágio avançado. A doença já havia se espalhado pelo organismo e nada podia ser feito.
Clarice Lispector faleceu em dezembro de 1977, um dia antes de comemorar seu 57º aniversário. Sua morte prematura encerrou sua trajetória de forma abrupta.
Muito bom conhecer melhor a história e algumas curiosidades desta escritora incrível que faz parte de nossa história.
Exatamente, Gracce!
Parabéns, texto muito bom . Clarice sempre sensacional, dona de uma personalidade marcante .
Obrigado pelo feedback, Denise. Bjs